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Antes de tudo, recordemos o Antigo Testamento que, além dos holocaustos (figuras do sacrifício que Cristo ofereceu e se torna presente em cada Eucaristia), conhecia também os sacrifícios de comunhão: aí se oferecia uma parte da vítima no altar e a outra parte era consumida num banquete pelos fiéis na presença do Senhor. O significado é belíssimo: faço refeição com o Senhor, à mesma mesa... Recordemo-nos que, para os orientais, comer à mesma mesa significa participar da mesma vida, da mesma sorte... significa ser amigos. Assim, quando os fiéis comiam à mesa do Deus de Israel, queriam exprimir a união de vida com Ele e com os outros participantes do banquete sacrifical (cf. Lv 7,11-21; 22,29-30). Tudo isto era preparação para a comunhão que o Senhor queria estabelecer conosco, uma comunhão inimaginável, estupenda: ele próprio daria seu Filho, morto e ressuscitado, pleno do Espírito Santo, como nosso alimento, como vida de nossa vida!
A Eucaristia, portanto, não somente é sacrifício, mas também banquete, aquele banquete tantas e tantas vezes anunciado pelos profetas! É importante insistir no significado do banquete: os convidados partilhavam a mesma vida (que vem do alimento e da bebida), por isso, participam da mesma alegria, da mesma intimidade, da mesma existência: na terra de Jesus só se convidava para um banquete os amigos! É por isso que o banquete é sinal de felicidade, de paz e de vida, porque é sinal de comunhão. Isso era ainda mais verdadeiro e forte no banquete dado pelo rei. Somente os altos dignitários participavam da mesa do rei. Assim, participar do banquete real era estar em comunhão com o rei, era ver a face do rei (que poucos viam no Oriente). Pois bem, tudo isso Deus nos concedeu na Eucaristia: “Minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,55s).
Pensemos agora um pouco: participar do banquete eucarístico é participar da Vida que o próprio Deus deu ao seu Filho ao ressuscitá-lo dos mortos. Como não pensar naquelas palavras de São João? “Deus nos deu a Vida eterna e esta Vida está em seu Filho! Quem tem o Filho, tem a Vida” (1Jo 5,11). É por isso que Jesus diz claramente: “Em verdade em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53). Eis, que mistério tão grande e tão santo! Participar do Pão e do Vinho eucarísticos é entrar em comunhão de Vida com Aquele que é Morto e Ressuscitado, com o Cordeiro eternamente imolado por nós! Participar das Espécies eucarísticas, das Coisas santas, é receber a própria Vida, aquela que Jesus recebeu na sua ressurreição, aquela Vida que estava junto do Pai e que nos apareceu (cf. 1Jo 1,2). Cada participação na Eucaristia é uma transfusão de vida eterna que recebemos, até que a consumemos na Glória!
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Por tudo isso, é absolutamente incompreensível que alguém participe da Missa sem comungar! O sacrifício eucarístico tende para esta comunhão entre nós e o Cristo, que se consuma quando comungamos! Somente por razões gravíssimas devemos nos abster da comunhão. Caso contrário, temos a obrigação de amor e de sede de vida de procurar o sacramento da Penitência e nos reconciliar com Cristo e a Igreja, de modo a participar plenamente do Banquete eucarístico! Ninguém vai a um jantar e fica sem comer... Certamente, há casos em que o mais aconselhável é não receber a comunhão... Mas aí não é por desleixo ou descaso, mas por coerência e coragem de quem é maduro para assumir que está em alguma situação particularmente problemática em relação ao Evangelho. É o caso, por exemplo, dos que estão unidos em segunda união já sendo casados na Igreja e o primeiro cônjuge ainda estando vivo. Mas, que esses irmãos e irmãs não se desesperem: o Senhor também vem a eles e para eles, pois conhece a sua história e vê o seu coração. É preciso recordar que, se a Igreja está ligada aos sacramentos, o Senhor não está: ele é o Senhor dos sacramentos e pode vir com sua graça de modo desconhecido e inesperado para nós. É bom recordar também que aqui não se trata de julgar os outros ou dizer que alguém não é digno de comungar! Quem de nós é digno? Quem ousaria pensar-se digno do Senhor? A Igreja, ao invés, nos ensina a dizer, antes de cada comunhão: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada!” A regra, no entanto, é clara: o quanto possível, comungar sempre, em cada Eucaristia da qual participarmos! É o ensaio geral para o banquete eterno, quando seremos saciados eternamente da glória de Cristo.
Gostaria de terminar com as palavras emocionantes da Liturgia de São João Crisóstomo: “Ó Filho de Deus, faz-me hoje participante do teu místico Banquete. Não entregarei o teu Mistério aos teus inimigos nem te darei o beijo de Judas. Mas, como o ladrão, eu te digo: Recorda-te de mim, Senhor, quando estiveres no teu Reino!”
Textos
Pe. Sidney Fernando de Caires
Foto.Google e particulares
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